Jornalismo virou algo descartável?

O jornalismo é descartável? Na visão de alguns, é sim. E isso é extremamente miope.

Nesta semana, tivemos a demissão em massa – o famoso “passaralho” – no NerdBunker, divisão de notícias do Jovem Nerd, além do fim do Inteligência Financeira, que era do Itaú.

Cada decisão tem a sua história, mas o panorama não deixa de ser preocupante para a comunicação.

Em um mundo no qual jornais, revistas e portais perderam o seu valor, a profissão de jornalista foi sucateada. Surgiu um cenário de fim de festa, sobre o qual poderíamos debater por horas as causas e seus reflexos. Google, eu estou olhando para você. 

Ao mesmo tempo, algumas empresas e marcas passaram a enxergar o editorial como uma ferramenta para a construção de marca, aumento de credibilidade, formação de banco de dados e veículo para a venda de outros produtos. Posso listar inúmeros exemplos desse tipo, como a compra da InfoMoney pela XP, da Exame pelo BTG e assim por diante.

No caso do NerdBunker e do Inteligência Financeira, a história é parecida. Um foi comprado pela Magalu; o outro, criado pelo Itaú. Até rimou.

Não vejo com maus olhos o uso da credibilidade jornalística para a construção de uma estratégia de comunicação ampla, em um flywheel no qual o editorial movimenta outras formas de monetização. O que não dá é encarar o conteúdo como receita em si mesmo, especialmente em um cenário tão desafiador.

Muitas empresas entram no conteúdo pensando no funil, mas ignoram que jornalismo sólido constrói comunidade, engajamento orgânico e confiança — ativos que levam tempo para crescer, mas são valiosos.

Caso contrário, o editorial será desligado da mesma forma que uma campanha de ads: ao clique de um botão. E isso não é sustentável, inclusive para a sociedade como um todo. 

Jornalismo não é um compromisso de um ano ou de uma década. É de uma vida. As marcas só conseguirão pegar um pouco dessa credibilidade emprestada quando, finalmente, aderirem a essa missão.