Letreiro de Hollywood. Crédito: Thomas Wolf,

Tarifas não resolvem: o problema é que nem Hollywood quer filmar em Hollywood

Trump disse que ia tarifas de 100% em produções feitas fora dos EUA. Mas… o problema está dentro de casa, e agora temos dados que corroboram isso. 

Neste mês, o presidente dos EUA disse que quer sobretaxar filmes produzidos 100% fora do território americano. Trata-se de uma tentativa de conter o “êxodo” de produções para outros países. E ele não está totalmente errado ao apontar o problema, como já expliquei por aqui. A questão é o remédio que ele quer aplicar. 

Nesta semana, veio um relatório do Milken Institute (via The Hollywood Reporter) e deixou isso claro: não é só questão de patriotismo. Produzir na Califórnia está cada vez mais caro, lento e burocrático. Uma taxa que custa US$ 540 em Londres sai por US$ 3.724 em Los Angeles — fora os valores a mais para coisas como usar drones, helicóptero ou fechar uma rua. O preço da moradia também explodiu. 

O programa de incentivos do estado, além de ter regras engessadas, da época da TV aberta, e tem uma janela de inscrição de apenas três dias por ano. Isso em uma indústria que já opera em ciclos cada vez menos previsíveis.

Os estúdios foram atrás de incentivos. Londres, Toronto, Sydney e até Budapeste agora são destinos frequentes. Nesses lugares também há câmbio favorável e até economia nos gastos com saúde (por conta dos seus sistemas públicos).

Não foi por ideologia, mas sim por planilha.

O relatório sugere reformas urgentes, como ampliar os tipos de projetos que podem receber incentivo e até mudar a estrutura do FilmLA, órgão responsável pelas licenças. São coisas que fizeram de Atlanta, na Georgia, o destino mais atrativo dentro do solo estadunidense – mas ainda é pouco para comportar toda uma indústria. 

Esse é um alerta importante para o setor — e para quem ainda acha que só “Hollywood” é sinônimo de produção audiovisual de ponta.

A resposta do Trump é mirar no inimigo externo, como sempre. Mas taxar quem grava no Canadá, Europa ou na Austrália não vai resolver se nem Hollywood quer filmar em Hollywood.

Se essa tarifa for pra frente, o efeito pode ser o oposto do esperado: menos produções, menos filmes, menos empregos. E o público no resto do mundo pode pagar ainda mais caro – seja no bolso, seja com menos opções do que assistir.

Como vemos, o problema não é onde se filma.