Efeito Trump? A CBS News se prepara para talvez a maior guinada da sua história recente.
A Paramount confirmou hoje a compra do The Free Press, o site fundado por Bari Weiss, e anunciou a própria jornalista como nova editora-chefe da CBS News, divisão de jornalismo da rede aberta norte-americana — responsável por programas importantes como o 60 Minutes.
A jornalista chega com a promessa de, abre aspas, “restaurar a confiança do público”, pregar “pluralidade” e cobrar “igualmente” democratas e republicanos. O discurso oficial é de reaproximação com uma audiência desconfiada, mas a escolha não é neutra: Bari é vista como crítica da esquerda progressista, alguém que construiu seu espaço justamente entre liberais desencantados e conservadores moderados.
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Internamente, o movimento soa como tentativa de resgatar relevância num momento em que o jornalismo da emissora perde força em audiência, especialmente no público de 25 a 54 anos, e luta para competir com rivais que dominam tanto o broadcast quanto o digital. A aposta é que Bari consiga trazer para dentro da emissora a energia que deu fôlego a The Free Press, mas também há temor de que esse reposicionamento seja percebido como concessão política. O risco é evidente: perder a base liberal histórica sem conquistar de fato os conservadores, que seguem fiéis à Fox News e a veículos ainda mais à direita.
Nos bastidores, pesa a pressão de Washington. A chegada de Bari Weiss pode ser vista, também, como gesto de apaziguamento para garantir espaço a uma empresa que precisa de fôlego para consolidar a união Paramount-Skydance.

Para quem não liga o nome à TV: Stephen Colbert, que deixará em breve seu talk show, apresenta justamente na CBS. Foi a mesma emissora que firmou um acordo de US$ 16 milhões com Trump por causa de uma entrevista com Kamala Harris — tudo isso pouco antes da aprovação da fusão dos grupos de mídia.
E é justamente aí que entra David Ellison. Filho do fundador da Oracle e novo dono da Paramount, ele chegou com a imagem de renovador, alguém capaz de imprimir ousadia e visão de futuro em um gigante em crise. A escolha de Bari Weiss reforça essa narrativa: um gestor que prefere arriscar a ficar na mesmice, apostando em um nome de fora da bolha para tentar reconstruir a credibilidade e reposicionar a CBS News.
No fim, a questão é simples: pluralidade de verdade ou apenas uma guinada à direita disfarçada de equilíbrio?