Mais que nostalgia, fim de Nickelodeon e MTV expõe oportunidade perdida

O fim da MTV, da Nickelodeon e de outros canais da Paramount no Brasil é o retrato de uma oportunidade perdida.

Para quem não acompanhou: a companhia informou às operadoras que vai descontinuar os canais MTV, MTV Live, Nickelodeon, Nick Jr., Comedy Central e Paramount Channel. O encerramento está marcado para 31 de dezembro. Quem antecipou a notícia foi o NaTelinha.

A decisão é claramente uma “limpeza de portfólio” para cortar custos e simplificar a operação antes da fusão com a Skydance.

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Eu poderia comentar aqui sobre o impacto disso na TV por assinatura, a nostalgia de quem cresceu assistindo a essas marcas, ou lembrar quando o grupo norte-americano – ainda chamado Viacom – pediu o retorno da MTV ao Brasil, que na época era operada pela Abril, para agora descontinuá-la.

Aliás, a MTV Brasil merece um texto só dela: poucos canais tiveram uma influência cultural tão grande, lançando nomes, formatos e um impacto que vemos até hoje.

Mas há algo mais forte nessa história: a inoperância dos estúdios legados na transição para o mundo pós-TV paga.

Criada em 1981, a MTV impactou gerações (Imagem: reprodução / Paramount)
Criada em 1981, a MTV impactou gerações (Imagem: reprodução / Paramount)

É impressionante. MTV e Nickelodeon são nomes que marcaram gerações. Fizeram parte da vida de muita gente com seus programas e propriedades intelectuais. Com uma gestão inteligente, poderiam ter se transformado em algo relevante na era da internet. Só que se perderam nesse processo e acabaram definhando junto com o meio onde nasceram.

A MTV até tentou, chegando a ter um portal no Brasil (operado pela Abril) e outros nos Estados Unidos. Mas tudo se perdeu em idas e vindas corporativas, decisões ruins e falta de timing.

Isso não significa que as marcas vão desaparecer de vez. Elas ainda aparecem (bem pouco) dentro do Paramount+ e em alguns sinais lineares da Pluto TV – ambos serviços de streaming do grupo. Há também o licenciamento para produtos. Só que, convenhamos: qual a relevância delas hoje? Quando foi a última vez que esses nomes geraram algum comentário entre o público a que se destinam?

E não é só a Paramount que enfrenta esse dilema. Warner Bros. e até a Globo passam por desafios semelhantes. A Disney, inclusive, seguiu um caminho parecido, acabando com quase todos os canais pagos – incluindo até o Disney Channel.

Até 31 de dezembro, a MTV segue em ritmo de velório. Na programação desta quinta, 9, por exemplo, são 7h30 de Catfish e 1h35 de Ridiculousness – apenas dentro do período entre 9h e 21h.

No fim das contas, talvez o verdadeiro catfish seja pagar para ter isso. Melhor acabar, mesmo.