A Apple segue firme e forte para ser cada vez mais uma empresa de serviços, e não de hardware –ainda que o iPhone seja o principal meio para esse objetivo. É isso que podemos analisar a partir do relatório financeiro divulgado pela companhia nesta semana.
A empresa fundada por Steve Jobs registrou uma receita total de US$ 95,36 bilhões no trimestre fiscal, um aumento de 5,1% em relação ao mesmo período do ano anterior (US$ 90,75 bilhões). Dois segmentos puxaram esse crescimento.
Venda de produto como serviço cresce
O primeiro foi o de serviços (que inclui Apple TV+, App Store, iCloud, etc.), que faturou mais 11,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, totalizando US$ 26,65 bilhões (vs. US$ 23,87 bi em 2024). No acumulado do semestre, o crescimento foi ainda mais robusto: US$ 52,98 bilhões, alta de 12,8% sobre o mesmo período do ano anterior (US$ 46,98 bilhões).
Serviços agora representam 27,9% da receita total da Apple, frente a 26,3% no mesmo trimestre de 2024. Já já chega em um terço.
Não há detalhamento individual da performance do Apple TV+ no relatório, já que ele está agrupado no segmento. No entanto, o crescimento consistente dessa linha indica que o canal de streaming segue ganhando tração —mesmo sem detalhes de número de assinantes ou custo de aquisição, que a Apple historicamente não gosta de divulgar.
Vendas de tablets foram bem
A surpresa mesmo foi o desempenho da linha de iPads, com o maior crescimento percentual entre todos os produtos: 15,2%. Vale lembrar que o período marcou o lançamento de novos modelos do iPad e iPad Air, incentivando atualizações por parte dos usuários. Como o começo de 2024 e todo o ano de 2023 não tiveram lançamentos na categoria, a base de comparação também favorece o desempenho.
Nova vocação da Apple?
Seja como for, o mercado de hardware (que inclui os iPhones, Mac etc.) está sofrendo diversas pressões (incluindo aí a questão entre Trump e China). Enquanto isso, os serviços estão capitaneando o crescimento da Apple. Isso mostra que, mais do que vender dispositivos a cada dois anos (no caso dos smartphones) ou até cinco (para quem tem um Mac), a companhia está comprometida em monetizar mensalmente sua gigantesca base de usuários com uma cesta cada vez maior de serviços.

Steve Jobs sempre anteviu que a Apple deveria sair do mercado de computadores e entrar no de produtos de consumo. Conseguiu. Já o grande legado do atual CEO, Tim Cook, é transformá-la nesse gigante de serviços. Não é à toa que a empresa tem, aos poucos, caminhado também para a área da saúde: poucos caminhos são tão estratégicos quanto vender soluções para o bem-estar (e para as doenças) dos seus usuários, por uma módica quantia mensal.
Isso tudo também reforça o quanto os problemas enfrentados com o Apple Intelligence e a Siri têm potencial catastrófico no futuro: nada melhor do que vender mais serviços do que uma inteligência artificial os empurrando…