O UFC quase foi para a Netflix. A F1 será transmitida pela Apple TV nos EUA. E essas duas notícias estão extremamente conectadas — apontando o futuro do esporte e do streaming, junto com algumas dúvidas e questionamentos.
Pouca gente deu bola, mas, há alguns dias, Ari Emanuel — um dos homens por trás da TKO — afirmou ao podcast The Town que o UFC esteve muito perto de fechar um acordo de transmissão com a Netflix, ao menos nos Estados Unidos. As negociações levaram meses.
A WWE, que também pertence à TKO, já está no catálogo ao vivo do grande N vermelho em diversos países, inclusive no Brasil.
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De acordo com o sócio dele, Mark Shapiro, a Netflix queria apenas os eventos numerados — os principais, cerca de 13 por ano. Os outros fight nights, na casa de 30, teriam que ir para outro lugar. Seria o mesmo modelo de ligas como a NBA, que dividem seus direitos de transmissão.
Só que o UFC não gostou da ideia e acabou fechando com a Paramount — que levou o pacote completo, com as 43 datas, por US$ 7,7 bilhões. O contrato vale para os EUA, começa em janeiro, terá duração de sete anos e inclui transmissões no Paramount+ e na CBS, sem a necessidade de pay-per-view.
Resumindo: a Netflix segue firme em suas ambições no ao vivo, mas quer só o premium do premium. É tanto uma estratégia de conteúdo quanto de custos — evitar inflar catálogo com lutas que atraem menos público.
Já a Fórmula 1 anunciou, no fim de semana, que fechou os direitos de exibição da categoria nos EUA com a Apple TV. O acordo, válido por cinco anos, não teve valores divulgados, mas estima-se em cerca de US$ 750 milhões – custo que se justifica pela busca de monetizar com os fãs hardcore.
A Apple já detém os direitos globais de algumas partidas da MLB e de toda a MLS. E aqui surge o alerta: a liga do “nosso” futebol (ou soccer, como eles dizem) registrou queda de público por partida depois da mudança para a Apple, que tem alcance menor.

Se, por um lado, concentrar tudo em um streaming facilita, por outro, estar preso a um ecossistema menor pode limitar a atração de novos espectadores. Nesse ponto, os grupos tradicionais de mídia ainda têm vantagem: conseguem oferecer pacotes que misturam TV aberta e outros canais gratuitos de grande alcance.
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A não ser, claro, que você seja a Netflix — que já provou que consegue criar fenômenos globais sozinha.
No meio disso tudo, quem sai “perdendo” é a Disney: o grupo, via ESPN e ABC, tem hoje os direitos das duas categorias e vai perdê-los em breve. Mas a empresa já vem falando de “realocação de capital”, então a saída também faz parte do contexto.
E assim, aos poucos, as peças do esporte vão se movendo no tabuleiro da mídia e do streaming.