Trump ameaça impor tarifa de 100% a filmes estrangeiros – de novo

Donald Trump – pela segunda vez – anuncia que irá impor uma tarifa de 100% em filmes feitos fora dos EUA. Qualquer um. O presidente não especificou quando ou como a taxa seria aplicada.

“Nosso negócio de produção de filmes foi roubado dos Estados Unidos da América por outros países, assim como roubar ‘doce de bebê’”, afirmou o político em sua rede social.

Minha reação foi uma sonora gargalhada, seguida de uma grande tristeza.

Em maio, o presidente já havia feito o mesmo anúncio. Na ocasião, justificou a tarifa dizendo que as produções estrangeiras eram uma ameaça à segurança nacional. A indústria do entretenimento entrou em pânico, mas o sentimento se dissipou rapidamente – afinal, Trump faz muitos anúncios, mas poucos efetivamente vão adiante.

Desta vez, não está claro se é pra valer ou mais um blefe.

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Para contexto: hoje, as produtoras rodam seus filmes e séries onde for mais interessante economicamente. Estados como a Geórgia e Nova York oferecem incentivos fiscais, assim como países como o Reino Unido e a Nova Zelândia.

Donald Trump, presidente dos EUA: tarifa de 100% em filmes produzidos fora do país
Donald Trump, presidente dos EUA: tarifa de 100% em filmes produzidos fora do país

Fugir das regulações dos sindicatos norte-americanos também é um fator importante.

O que o presidente aponta pode até ser uma questão real, mas eu repito o que escrevi em maio:

“Só que Trump quer aplicar um remédio errado, amargo. Em vez de adotar a lógica neoliberal de muitos dos seus apoiadores, que seria diminuir taxações internas para atrair de volta essas produções, ele vai penalizar o resto. É o oposto, por exemplo, do que fazem estados como a Geórgia –que praticamente virou uma nova Hollywood ao cortar impostos.

“Além de fazer esses outros países sofrerem, tirando empregos, a medida não vai ser efetiva. A realidade é que produzir nos EUA se tornou caro, por diversas questões –incluindo aí a pressão local dos sindicatos em busca de melhores condições de trabalho, algo louvável.

“Resultado? Se a medida for para frente, teremos menos filmes e séries dos EUA. Os estúdios, já combalidos, vão sofrer mais. Os streamings vão minguar. Os exibidores terão menos produções de lá para programar em suas salas.

“Isso se os outros países não adotarem ações na mesma medida, seguindo a lógica da reciprocidade. Ou seja, o ingresso de cinema pode ficar mais caro aqui no Brasil e no resto do mundo, também –afastando ainda mais espectadores. Hoje, em média, de 50% a 60% da bilheteria dos longas norte-americanos vem do resto do globo.”