Desde 2022, foram 100 mil demissões na indústria da mídia. Nas de empresas de tecnologia, 500 mil pessoas perderam o emprego. Isso só nos Estados Unidos. O dado foi levantado por Evan Shapiro.
Tudo isso enquanto algumas dessas companhias reportam bons resultados financeiros — e muitas pagam gordos bônus aos seus principais executivos.
Em Los Angeles, o Wall Street Journal reportou um sinal devastador: a classe média criativa está em crise, impactando todo o comércio e os serviços. De acordo com Shapiro, 40 mil demissões ocorreram apenas nessa região.
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E isso considerando apenas os dados públicos, aos quais temos acesso. No Brasil, por exemplo, os números são descentralizados — e muitas demissões acontecem na surdina. Por isso, não temos a exata dimensão do que está ocorrendo. Na última semana, por exemplo, vi meus ex-companheiros de Filmelier perderem seus empregos. Toda minha solidariedade a eles.
Esse movimento tem dois lados, é claro.
Um é o das empresas, que apostaram pesado no digital e no streaming — uma onda que atingiu não só a economia criativa, mas também outras áreas. Até sites de notícias se empolgaram durante a pandemia e saíram contratando.
Mas aí veio não só a realidade, como também uma cobrança desesperada por resultados financeiros rápidos. A inteligência artificial surgiu como a desculpa perfeita para justificar cortes: menos gente poderia fazer mais trabalho — ou, em alguns casos, não seria necessária pessoa alguma.
Será essa a melhor resposta, especialmente diante da bolha da IA em que vivemos?
Do lado dos demitidos, o momento é delicado. Minha sugestão: busquem a própria reinvenção. Quando esse movimento passar, se destacarão não os que sabem pilotar os geradores de lero-lero, mas aqueles com real senso crítico, opiniões embasadas, que trazem pontos de vista únicos e sabem ler e interpretar dados para além do óbvio.
Busquem aprender ferramentas novas, mas sem se deixar dominar por elas.
Torço também para que se fortaleçam as relações interpessoais, olho no olho — virtuais ou presenciais. Vamos valorizar quem tem repertório para conversar sem muletas.
Como o próprio Shapiro disse: transforme sua rede de contatos em uma comunidade.
Não fiquem sozinhos.
