O movimento mais importante do entretenimento em muito tempo — a Netflix comprar a Warner Bros. — não tem nada a ver com “mais séries para você assistir”, e sim com a guerra pela sua atenção.
A Netflix anunciou a compra da divisão de estúdios e da HBO Max da Warner Bros. Discovery por US$ 82,7 bilhões. É um número grande, mas o que está por trás dele é ainda maior: não se trata só de incorporar “Game of Thrones”, “Harry Potter” ou o legado centenário da Warner ao catálogo. Eles querem, mesmo, enfrentar os concorrentes reais — e nenhum deles é outro streaming por assinatura no mesmo modelo de negócio.
Hoje, YouTube e TikTok concentram a maior fatia da audiência de vídeo. Usando o nosso país, via Kantar Ibope, apenas como recorte: o YouTube leva 20,4% do share; o TikTok, 4,8%. A Netflix soma 4,5%, e a HBO Max, 0,3%. No fim do dia, todos disputam os mesmos minutos da sua vida e a mesma verba publicitária. A fusão não mira o cinema, mas sim esse presente.
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E, ao comprar a Warner, a Netflix ganha algo que faltava: franquias com memória afetiva, personagens intergeracionais, propriedades capazes de segurar o público dentro de um ecossistema próprio. Isso amplia a retenção, cria portas de entrada e, principalmente, fortalece a empresa para competir num mercado em que o adversário mais perigoso não lança séries — lança vídeos de 30 segundos, feitos pelos próprios usuários.
Ainda é cedo. A operação precisa passar pelos reguladores e pode levar de 12 a 18 meses para se concretizar. Mas o recado já foi dado: Hollywood acaba de ser reordenada — e a batalha, agora, é por atenção, não por catálogo.
Analisei tudo isso (e mais) na minha coluna no UOL, a Na Sua Tela. Lá também explico como fica para o consumidor final.
