Por que a Fórmula 1 preferiu a Globo mesmo ganhando menos?

Menos dinheiro. É isso que a Liberty Media vai receber com o novo contrato para transmitir a Fórmula 1 a partir de 2026. Mas afinal, por que a F1 voltou para a Globo mesmo diante de propostas financeiramente mais vantajosas?

Segundo apuração de Julianne Cerasoli, no UOL, o Grupo Bandeirantes e a Record teriam oferecido, respectivamente, US$ 10 milhões (cerca de R$ 55 milhões) e US$ 13 milhões (R$ 72 milhões) pelos direitos de transmissão da Fórmula 1 no próximo triênio. Tem mais: os canais se comprometeram a exibir as 24 provas em TV aberta, além de dar espaço para um pré-show e para o pódio.

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Contudo, a F1 preferiu uma oferta que seria de “apenas” US$ 8 milhões (R$ 44 milhões). Inicialmente, a TV Globo exibiria apenas oito GPs ao vivo, mas esse número subiu para 15 no acordo final.

Esses valores são irrisórios perto de outros mercados globais. Nos EUA, por exemplo, o Business Insider aponta que a Apple estaria interessada em pagar mais de US$ 150 milhões (R$ 834 milhões) por esses direitos. Ao ano.

Por que a F1 voltou para a Globo

Você deve estar se perguntando: por que a Liberty Media preferiu a menor oferta no Brasil? É simples: audiência.

Como a própria Julianne aponta, os donos da categoria acreditam que a TV Globo pode chegar a oito pontos na medição da Kantar Ibope, contra quatro que a Band — com sorte — consegue.

Cada ponto corresponde a cerca de 1% da audiência medida.

O público da Fórmula 1 no Brasil sempre foi muito boa, mesmo em momentos ruins para a categoria e para o país. Isso continua sendo verdade — ainda mais agora, com o crescimento impulsionado pelo fenômeno Drive to Survive.

Por que a F1 voltou para a Globo?
Reginaldo Leme e Sérgio Mauricio: a atual equipe de transmissão não deverá ser aproveitada na Globo (crédito: divulgação/Band)

A F1 não divulga números de audiência por país desde 2019, mas, naquele ano, o Brasil liderava o ranking global com um público acumulado superior a 100 milhões. Na última pesquisa com fãs, em relação a 2024, a categoria afirma que o Brasil é o maior mercado global em termos de engajamento no longo prazo — e que 90% dos fãs brasileiros assistem às provas ao vivo.

Basta fazer a conta: ao ampliar o alcance por aqui, com um dos maiores grupos de mídia regionais do mundo, o campeonato turbina seu público global. E não estou falando apenas de quem vê os GPs, mas de todos que serão impactados por telejornais, programas de entretenimento, intervalos comerciais e muito mais.

Afinal, é bastante óbvio: automobilismo é o maior outdoor que existe. Há muito espaço para marcas, aliado a uma aura de glamour, tecnologia e ápice esportivo. Com números inflados, equipes e — principalmente — a Liberty Media podem cobrar mais de patrocinadores e anunciantes.

Um exemplo é o recente acordo da categoria com a LVMH, dona de marcas como Louis Vuitton, TAG Heuer e Moët & Chandon. O grupo, de acordo com a Fortune, pagou US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) por dez anos de parceria.

Sim, a maioria do público brasileiro está longe de ter poder aquisitivo para comprar essas marcas. Mas o nosso número fica bonito na planilha junto com a proposta. Fora que temos, sim, mais apetite para outros patrocinadores da F1, como McDonald’s, Santander, Pirelli, MSC, AWS, Lenovo… e também para as próprias montadoras que participam do certame — como a Audi, que estreia oficialmente no ano que vem e teve o nome dito em alto e bom som em pleno Jornal Nacional.

Em um mundo com tantas cifras, cinco milhões de dólares é dinheiro de pinga. Ou melhor: de combustível.