O mercado de mídia brasileira passa por uma guinada que pouca gente percebeu de verdade: O Estado de S.Paulo anunciou na última semana a compra da NZN, dona de sites como TecMundo, Voxel, Minha Série, Mega Curioso e da newsletter The BRIEF.
De um lado, um jornal centenário, baseado em assinaturas digitais e reputação em política e economia. Do outro, um dos maiores players independentes do país, que cresceu surfando a onda do SEO, com grande alcance em tecnologia, games e cultura digital.
É um casamento que diz muito sobre o momento da mídia BR.
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O Estadão busca rejuvenescimento do público, relevância em audiovisual e expansão digital acelerada, em um cenário em que precisa concorrer com criadores em plataformas digitais. Já a NZN chega com know-how em distribuição online, estúdios de áudio e vídeo prontos, marcas fortes e uma audiência massiva e gratuita. Mas também com uma fragilidade: a mudança do jogo do SEO.
O TecMundo, junto com outros sites do jornalismo tec, foi um dos que mais souberam aproveitar a era em que a busca do Google era a porta de entrada da internet no Brasil, mas agora o cenário mudou. Com a ascensão da inteligência artificial e o impacto das questões envolvendo o Google Discover, o acesso orgânico caiu e perdeu previsibilidade.
Apenas como uma rápida referência: o SimilarWeb aponta queda de 20% nas visitas no TecMundo. No último MÊS.
Esse contexto empurra empresas digitais para a necessidade de se unir a grupos maiores, porque poucos independentes vão sobreviver.

A junção é lógica: o Estadão traz credibilidade, força comercial e o modelo de assinaturas; a NZN entrega audiência jovem, linguagem digital e produção em vídeo e áudio já usada no próprio Estadão. Em poucos dias, já dá para ver notícias do TecMundo na capa do jornal e vice-versa, sinal de integração rápida.
Esse casamento tem complementaridade, mas também sobrevivência. Claro que não é simples: juntar culturas diferentes — uma tradicional e outra nativa digital — exige cuidado. Se o grupo equilibrar isso, pode sair na frente; se não, corre o risco de engessar justamente o que tornava a NZN relevante.
Fico curioso também sobre como está sendo a exploração da IA em ambas as redações. Já disse por aqui, e repito: o futuro do jornalismo não é criar resumos ou aumentar o volume de notas, mas entender como a inteligência artificial pode ajudar em outros setores, incluindo na distribuição do conteúdo.
O segredo também passa por produtos “anti-IA”, com experiências que a inteligência artificial não replica: análises humanas, entrevistas exclusivas, bastidores políticos, reviews de produtos em vídeo, pontos de vista relevantes, etc.
No fim, essa aquisição mostra um ponto maior: a mídia brasileira entrou em uma fase de consolidação, em que só quem tiver escala, diversificação e marcas fortes vai resistir à revolução da IA. Talvez a verdadeira vitória seja essa: unir o melhor do tradicional e do digital para não se tornar irrelevante.