Denúncia de Felca abre debate sobre a imprensa, mas jornalismo segue importante como nunca

“O jornalismo tradicional morreu.” “Onde estavam os jornalistas que não viram isso antes?” Essas são algumas das coisas que estou lendo e ouvindo após a grande repercussão do vídeo do Felca sobre a adultização. Bom, essas pessoas não poderiam estar mais erradas.

Ainda que exista um ponto na crítica – preciso admitir.

O que o criador de conteúdo fez foi exemplar. Trouxe sua linguagem e um alcance já estabelecido para jogar luz em uma discussão importantíssima. Contudo, ele não mostra que o jornalismo morreu, apenas que ele é mais relevante do que nunca.

Afinal, esta não é uma atividade inerente apenas aos jornalistas, mas sim à sociedade. Isso está provado mais uma vez.

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Também não procede que a imprensa ignorou esse assunto – ou outros do tipo. Eu vejo diariamente veículos como Repórter Brasil, Intercept Brasil, Agência Pública, Nexo Jornal, Agência Lupa, JOTA e revista piauí, entre outros, apurando questões importantíssimas e fazendo denúncias. O mesmo ocorre em portais como o UOL, que tem um espaço dedicado a grandes reportagens. Na TV, programas como o Fantástico, da Globo, fazem isso todo domingo.

Podemos, claro, debater sobre qualidade, formato etc., mas nunca que a imprensa, de forma coletiva, é omissa.

Contudo, nem sempre essas grandes matérias possuem a atenção que mereceriam, nem o alcance ideal. Enquanto isso – e aqui aceito e endosso a crítica – boa parte dos veículos se rendeu ao clickbait exagerado e à polêmica vazia que traz audiência fácil. Tudo pelo desespero de correr atrás dos números, numa lógica quase nefasta, em que precisam de pageviews para monetizar e receber poucos centavos.

Trocamos o interesse público pelo que é interessante para o público.

Também não podemos esquecer o papel de quem consome a informação, muitas vezes atraído pelo conteúdo “interessante”, mas descartável.

O que Felca mostrou, sim, é que dá para construir autoridade e relevância dentro de uma nova dinâmica e usá-las em prol da informação. Comunicação não é sobre ser impecável no valor de produção (nesse sentido, o vídeo dele tem vários problemas), mas sobre entender o meio, a mensagem e as pessoas.

Se mais criadores de conteúdo, influenciadores ou youtubers – ou como quiserem se chamar – decidirem produzir jornalismo sério, com apuração e credibilidade, serão mais do que bem-vindos.